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"Entre o Vazio e o Vestígio"
Porto, Portugal
Num espaço que já foi familiar, a sala de jantar torna-se palco de uma instalação onde o tempo parece ter suspendido o gesto. A mesa e as cadeiras, despidas dos seus tampos, tornam-se esqueletos do que já foi apoio e sustento. São agora estruturas ocas, frágeis, quase ausentes, onde repousam teias finíssimas e talheres cuidadosamente dispostos — como se esperassem por um ritual que nunca começou, ou que terminou sem aviso.
A teia, com sua transparência delicada, tensiona o espaço entre o que ainda se sustenta e o que já desmoronou. Os talheres, instrumentos de encontro e partilha, pairam como relíquias de uma comunhão perdida. Tudo está lá, menos as presenças. A ausência tornou-se protagonista.
É uma cena silenciosa onde a matéria do dia a dia carrega o peso do simbólico. A família — outrora o pilar — agora não suporta mais o conjunto. Resta a tentativa de completude através dos próprios elementos: cadeiras que não acolhem corpos, uma mesa que não acolhe pratos, talheres que não alimentam.
A obra do Coletivo A Casa ao Lado convida à contemplação do invisível. O afeto que se esgarça, o convívio que se rompe, a base que já não é base. E ainda assim, há um esforço — quase ingénuo, quase poético — de recompor o todo com as partes que sobraram. Como se o próprio vazio pedisse preenchimento. Como se a ausência, mesmo na sua crueza, implorasse por forma.





