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"Memórias"

Vouzela, Portugal

Nesta instalação, a casa não é abrigo, é testemunha.
As paredes de tijolo bruto, ora em construção, ora em desconstrução, não se esforçam por esconder a sua precariedade. Erguem-se como fragmentos de um gesto inacabado, como se a própria ideia de lar tivesse sido interrompida. Nada está concluído — nem o teto, nem o afeto.
As falhas entre os tijolos, os encaixes imperfeitos, tornam-se respiros por onde escapa o passado. E é aí, nesse erro da construção, que a obra ganha voz. Pequenos tijolos, como cápsulas de memória, preenchem as lacunas com vestígios do que já habitou aquele espaço. Não são objetos — são sombras de presenças, sulcos de vidas que ali passaram.
A parede, que antes servia para conter, agora revela. Ela não esconde o que falta, mas guarda o que foi. A ausência aqui não é silêncio — é marca. Cada baixo relevo é uma história que não se apagou, mas se incrustou na matéria, como se o tijolo, poroso e imperfeito, tivesse aprendido a lembrar.
É uma casa sem móveis, mas repleta de memórias compactadas. Uma arquitetura que não procura estabilidade, mas memória. Uma tentativa de manter, no próprio erro da construção, a dignidade das coisas que fizeram o espaço ser vivido.
E assim, a obra devolve à matéria o seu direito de lembrar. Porque às vezes, mesmo naquilo que se desfaz, algo insiste em permanecer.

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